Movimento Passe Livre convoca ato questionando modelo de cidade proposto através das obras que serão o chamado legado da Copa do Mundo. Ação é parte das mobilizações que já estão ocorrendo
O Movimento Passe Livre (MPL) prepara um ato para o dia 19 de junho, com concentração na Praça da Sé, centro de São Paulo, como parte das mobilizações Copa Sem Povo, Tô na Rua de Novo. Segundo o militante do MPL Marcelo Hotimsky, a ideia é questionar os investimentos e o modelo de cidade proposto com as obras da Copa do Mundo. “É um investimento para uma cidade que exclui a população mais pobre e que usa o transporte público como mote dessa exclusão”, avalia.
“No dia 19 será um dia de jogos. Estamos pensando a retomada da cidade. Mostrar que, enquanto os mais ricos estão aproveitando os jogos, a gente também está aqui, protestando e tomando o resto da cidade pra gente”, explicou.
Para Hotimsky, obras como o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) de Fortaleza, ou o monotrilho da linha 17 – Ouro, do Metrô de São Paulo, não foram pensadas para a população. “Em Fortaleza estão construindo o VLT sobre várias comunidades pobres, mas para atender a uma área nobre. Aqui, a linha 17 ainda está em processo e lá no Ceara já aconteceu”, pontuou.
O VLT de Fortaleza irá ligar o Porto de Mucuripe e sua região hoteleira ao estádio do Castelão, passando pelo aeroporto Pinto Martins e a rodoviária da cidade. O governo do Ceará anunciou que seriam necessárias 2.185 desapropriações para a realização da obra, sobretudo nos bairros Trilha do Senhor, Lauro Vieira Chaves, Comunidade das Flores e São Vicente de Paula.
A linha Ouro do Metrô paulista ligará a estação Jabaquara da linha 1 azul, ao aeroporto de Congonhas, na região do Campo Belo, e à região hoteleira e empresarial da avenida Luís Carlos Berrini, no Brooklin, ambos na zona sul da cidade. No entanto, a obra só ficará pronta depois da Copa.
O monotrilho vai passar sobre 11 comunidades localizadas às margens do córrego Água Espraiada, e estima-se que 8 mil famílias sejam removidas no total. As favelas do Comando e do Buraco Quente, na avenida Jornalista Roberto Marinho, próximo à avenida Washington Luís, já foram inteiramente removidas. E suas 400 famílias tiveram como solução o auxílio aluguel de até R$ 400 ou moradias precárias nos extremos leste e sul da capital paulista.
Hotimsky avalia que, no momento, a situação ainda é tranquila para as mobilizações. Mas que a repressão policial contra a manifestação da última quinta-feira (15), na avenida Paulista, é anúncio de que as coisas devem ficar difíceis. “A tendência é a coisa piorar. Por enquanto está mais tranquilo, mas em junho, durante os jogos, a coisa deve ser ainda mais tensa”, afirmou.
Na quinta-feira (15), cerca de 3 mil pessoas organizadas a partir do Comitê Popular da Copa e de vários outros movimentos conseguiram protestar durante apenas 20 minutos. A Polícia Militar, que acompanhou durante todo o tempo com escudos, armas de bala de borracha e bomba de gás lacrimogêneo esperou apenas um princípio de confronto com um grupo de Black Blocks para dispersar o ato com truculência. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas com estilhaços de bombas.
No entanto, Hotimsky acredita que a população deve comparecer cada vez com mais peso aos atos. E uma demonstração disso foi o “catracaço” que ocorreu na estação República do Metrô de São Paulo, de forma espontânea, durante a Virada Cultural, no domingo (18).
“As pessoas estavam saindo da Virada Cultural por conta da chuva de granizo. Muita gente entrando na estação e os funcionários tentando controlar a entrada. As pessoas começaram a pular as catracas e, para não virar um caos, os seguranças tiveram de liberar a entrada. E o pessoal começou a gritar ‘Ei, Fifa, paga minha tarifa’”, comentou.
“Isso tudo é fruto de muita discussão em relação ao transporte e aos investimentos na Copa do Mundo nos últimos tempos”, disse o militante. A convocação do ato nas redes sociais contava 3.600 confirmações até às 19h de segunda-feira (19).
* Com edição do ANDES-SN