Com a presença do Choque e violenta repressão, UFPR privatiza Hospital de Clínicas

 

O Conselho Universitário (Coun) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) aprovou, na manhã dessa quinta-feira (28), a privatização do Hospital de Clínicas (HC) da instituição por meio da adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Para conseguir a aprovação da entrega do HC à Ebserh, a reitoria da UFPR teve que recorrer ao uso da força policial e violenta repressão de manifestantes e conselheiros, com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, e ainda realizar parte da votação por telefone.

No início da manhã, docentes, técnico-administrativos e estudantes contrários à privatização do hospital já se reuniam no Pátio da Reitoria para acompanhar a votação e pressionar os conselheiros em defesa da saúde e da educação públicas. Porém, segundo Adriana Dalagassa, diretora da Associação dos Professores da UFPR (Apufpr – Seção Sindical do ANDES-SN) e conselheira do Coun, logo as portas de acesso ao prédio onde ocorreria a reunião do Conselho foram fechadas pela administração, impedindo assim a entrada de diversos conselheiros. O prédio foi cercado por policiais da força tática das Polícias Militar e Federal.

“Em seguida, a reitoria colocou os conselheiros que estavam do lado de fora dentro de um ônibus escoltado, mas apenas aqueles que eram favoráveis à Ebserh”, conta Adriana. Segundo ela, o ônibus rodou pelo centro de Curitiba até parar no HC, que fica a menos de um quilômetro de distância do Pátio da Reitoria. Lá, já estava armada uma teleconferência para que os conselheiros pudessem votar quanto à adesão à Ebserh.

No entanto, houve uma queda de luz que impossibilitou a teleconferência, fazendo com que a votação ocorresse por telefone. “Não existe votação à distância, muito menos por telefone”, afirma Adriana Dalagassa. A diretora da Apufpr ressalta ainda que a Seção Sindical, em conjunto com o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e com o sindicato dos técnico-administrativos (Sinditest), está buscando formas de comprovar a ilegalidade da votação, barrando judicialmente a privatização do HC.

Assim que a votação por telefone terminou, foi decretada a adesão do Hospital de Clínicas da UFPR à Ebserh, por 31 votos favoráveis contra 9 contrários, em um universo de 63 conselheiros. Os manifestantes que continuavam do lado de fora do prédio da reitoria começaram a protestar e foram reprimidos com extrema violência pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar e pelo efetivo da PF. O estudante Nicolas Pacheco, que participava do ato, foi detido dentro da reitoria. Segundo relatos, o jovem foi puxado por um policial federal para o interior do prédio, e mantido como refém sem direito de advogado.

Mancha na história

Depois do processo de redemocratização do país na década de 1980, a UFPR havia vivenciado em dois momentos ações repressivas contra a comunidade acadêmica. No final de 2005, durante o processo eleitoral – marcado por irregularidades – a Polícia Federal foi convocada para reprimir a manifestação da comunidade acadêmica, que questionava o resultado do pleito. Naquela ocasião alguns estudantes foram agredidos pelos agentes.

Em 2007, para aprovar a adesão da UFPR ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), o então Reitor Carlos Augusto Moreira Junior transferiu a sessão do Conselho Universitário para o HC, e utilizou novamente a polícia federal para impedir as manifestações. Em 2014, durante a sessão do Conselho Universitário para decidir sobre a entrega do HC à EBSERH, realizada nas dependências do prédio da administração central dos Correios, um forte aparato policial foi mobilizado para intimidar os manifestantes. Entretanto, apesar da tensão, houve poucas ações das forças policiais.

Já os acontecimentos de hoje (28), com a quantidade de pessoas feridas e o uso desmedido de força por parte das forças especiais da polícia federal,  ficarão marcados como a mais violenta ação repressora na história da Universidade Federal do Paraná. A atual Administração da UFPR, encabeçada pelo reitor Zaki Akel Sobrinho e pelo vice-reitor Rogério Mulinari, provavelmente será lembrada não apenas pelos métodos questionáveis – como a realização da sessão do COUN por telefone – mas pelo mais forte uso do aparato policial na história da instituição.

Avaliação

Para a diretoria da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR-SSind) atitudes tomadas pela Reitoria, com o uso de forças policiais mais fortes dos que aquelas usadas na ditadura geram insegurança na comunidade acadêmica. “Não podemos voltar ao passado, quando a livre manifestação da comunidade acadêmica da UFPR era impedida com o uso da força”, afirma o presidente da APUFPR-SSind, João Negrão.

Além disso, a realização da reunião do COUN por telefone para aprovação da entrega do HC à EBSERH traz grande dúvida sobre o futuro dos processos decisórios na UFPR. “Em um momento em que a sociedade exige cada vez mais transparência, a realização por telefone de uma sessão tão importante do Conselho Universitário coloca em risco o futuro dos processos democráticos na nossa instituição”, complementa Negrão.

*Com informações e fotos de Apufpr-SSind.

Fonte: ANDES-SN